CRÔNICAS
Jornalista por formação, Francielle de Souza é mestranda em Comunicação Social pela UFMG e se arrisca na vida acadêmica por paixão e loucura. É, também, piolho confesso de grupo de pesquisa e acha que tudo pode ser analisado, mas nem tudo convém. Aqui, fez questão de deixar de lado seu obstinado interesse pela música popular brasileira, tema que persegue na trajetória acadêmica, para se permitir caminhar desgovernadamente pelos desalentos de uma pandemia.
Francielle De Souza
“Espasmos De Um Cotidiano Em Pandemia”
Os primeiros assombros – O vírus
“Estou confinada há pouco mais de um mês. Abro, a cada duas horas, o site que me atualiza sobre o número de pessoas contaminadas. Concordo com um amigo que me diz, por telefone e em poucos segundos, que imaginou até viver a volta de Jesus Cristo, mas nunca uma pandemia.
Meu programa de notícias preferido muda de assunto pela primeira vez em semanas. Esqueço, com frequência, em qual dia estamos. […] Vou para a cama cada vez mais tarde. Toda noite, antes de dormir, conto os mortos.”
17 de Abril de 2020
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A rotina – Os últimos sóis por aqui
“Circunscrita em um espaço-limite que me permite ver os feixes de luz passarem pelo corpo e converterem-se em breu, consigo examinar com calma se ainda há abacates no pé da horta ou observar a linha férrea que agora (como em outros tempos, por outras razões) não é sacolejada por um trem ao longo do dia; posso simplesmente deitar na rede para ver o céu ganhar tons alaranjados ou ficar encasquetada com a antiga construção de pedra nos fundos da casa vizinha que, segundo nossas suspeitas, deve ter sido feita por escravizados da região. No pouco tempo que fico ali, muitas temporalidades me atravessam e elas não parecem sofrer a incidência do vírus. […]Identifico as coisas que vejo como continuidades do mundo em que vivia antes da pandemia. Por que, então, o reconhecimento que faço delas não me ajuda a organizar o meu próprio tempo?”
02 de Maio de 2020
NOTA
A finalidade do projeto é servir como registro das narrativas produzidas no período da quarentena em espaços on-line, por isso algumas das imagens podem conter conteúdo sensível ou de caráter discriminatório. Elas se encontram nesse compilado com fim reflexivo.
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